O dia do Rei

O dia do Rei

sábado, 13 de agosto de 2011

Na sequência de 'Rock'n'roll', Erasmo Carlos lança 'Sexo', CD que chega às lojas na próxima semana.

RIO - Com a edição da nova "Playboy" de Adriane Galisteu sobre a mesa do escritório ("E não sou daqueles que assinam dizendo que é por causa da entrevista", esclarece), Erasmo Carlos começa a conversa sobre "Sexo" (gravadora Coqueiro Verde) falando de sua língua. Não de sexo oral - tema, aliás, de uma das canções do CD, "Apaixocólico anônimo" ("Desde o dia em que provei/ O sabor do seu desejo/ Nunca mais tive sossego"). A questão central para Erasmo, quando aborda o assunto, é a curvilínea língua portuguesa.


O sexo sofre um preconceito muito grande na língua portuguesa, porque as palavras mais bonitas para descrever o ato são palavrões. É uma dificuldade falar do tema com bom gosto sem perder força. O CD "Santa música" tem uma canção, "Calma, baby", que mostra uma mulher que goza. Foi difícil fazer, e não ficou como eu queria. Em "Sexo", eu podia ter falado mais coisas, mas não ia poder tocar em lugar nenhum. Em "Sentimento exposto" >ita<(no qual um homem se vira literalmente pelo avesso e se mostra para a mulher assim), em vez de "E nua no quarto/ Se convenceu/ Que o amor do meu avesso era melhor que o meu", como ficou, podia ser "Que o pau do meu avesso era maior que o meu" - conta, antes de refletir, em tom jocoso, sobre a verdade anatômica pseudocientífica do verso.
Mesmo sem os palavrões (há apenas um, num verso de Arnaldo Antunes), Erasmo não abre mão de tratar o sexo de forma aberta - tanto na falta de pudor quanto nas diferentes abordagens. A primeira faixa (de um total de 12, todas inéditas) já mostra essa pluralidade. "Kamasutra", com letra de Arnaldo, é um desfile de posições sexuais, com direito a versos sacanas como "No 69 a gente deu nosso primeiro beijo" e, vá lá, românticos, como "Mas no tradicional papai-e-mamãe/ Foi que a gente mais arrebentou"- a canção ganhará clipe de Cacá Diegues em duas versões, uma "para adultos" e outra "família".
O cruzamento de romantismo e prazer, amor e sexo, atravessa o CD. Em "Amorticídio" (um dos neologismos criados por Erasmo em sua transa com a língua portuguesa), o sexo queima infernal como estopim para o ciúme ("O amor não é nada disso/ Mas é culpado disso"). "Seu homem mulher" - com letra de Adriana Calcanhotto que pode ser entendida como sensível retrato do Erasmo doce e durão - fala do sujeito que vive "só pra ser" e "só prazer" o homem-mulher de sua amada. "E nem me disse adeus", com Nelson Motta, traz os versos "Você me beijou/ Dando a senha pra ser amada/ E a luz se apagou...".
- Expliquei aos parceiros >ita<(além dos citados, estão Chico Amaral e Liminha) qual era o tema e cada um abordava como queria - conta Erasmo, que idealizou "Sexo" a partir de "Rock'n'roll", seu disco anterior. - As pessoas começaram a cobrar a trilogia. Pensei que sexo seria um bom tema. Mas não significa que fecharei com o CD "Drogas". Ainda não pensei nisso.
O show "Sexo e rock'n'roll", baseado na turnê anterior, começa em setembro em Belo Horizonte, passa por São Paulo e Salvador e chega ao Rio, em palco não definido, só depois do Rock in Rio, no qual Erasmo se apresenta com Arnaldo.
Liminha - produtor do CD e responsável pelas nuances dos arranjos, que, em metáfora sexual, vão do mais suave ao selvagem - é o único parceiro que fez música, não letra. Os versos de "O rosto do rei" são de Erasmo - que, antes que se pergunte, nega qualquer referência a Roberto Carlos na canção. O compositor cita "Sexo é vida" como outra que pode levar a interpretação dúbia.
- Podem interpretar como canção contra o aborto. Mas não fiz assim. É a favor da vida, isso, sim.
O sexo que Erasmo, aos 70 anos, expõe no CD em adjetivos, metáforas e neologismos foi formado a partir das experiências próprias do compositor, pelo consumo assíduo de pornografia - desde as revistas de anatomia (ainda na fase pré-Carlos Zéfiro) até o canal Sexy Hot, do qual é assinante - e por suas outras incursões poéticas no tema - desde sempre caro ao artista, com exemplos como "Você me acende", "Cavalgada" e "Minha superstar". Com um olhar da maturidade.
- O sexo passa a ser mais demorado, a reunir mais coisas. A contemplação do corpo, a descoberta do terreno... Faço uma turnê pelo corpo da mulher, uso todos os sentidos - descreve, antes de explicitar, sorrindo, o ganho que isso traz para sua composição. - Você tem mais para falar.
Sempre em português, Erasmo faz questão:
- Se quero transmitir emoção, tenho que falar na língua que uso na hora que gozo. E não falo "my God", nem "yeah, yeah" - diz um dos pais do brasileiríssimo iê-iê-iê.

Fonte-oglobo

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